segunda-feira, 5 de julho de 2010

Polônia diz adeus a Kaczynski e se volta à integração europeia


A vitória do liberal Bronislaw Komorowski nas eleições presidenciais da Polônia abre o caminho do país rumo a uma mais profunda integração política e deixa para trás figuras tão polêmicas como o conservador Jaroslaw Kaczynski, muito criticado em Bruxelas por seu nacionalismo e intolerância.

O processo era lento e inexorável. Começou em 2007, com a derrota parlamentar do partido Lei e Justiça (PiS), quando Jaroslaw Kaczynski perdeu a oportunidade de continuar à frente do Executivo e cedeu ao impulso liberal.

A morte no acidente aéreo de seu irmão gêmeo e chefe de Estado, Lech Kaczynski - junto a membros da elite conservadora polonesa -, acelerou o declínio do partido ao privá-lo de muitas de suas principais figuras.
Agora a Polônia fica definitivamente dominada pelos liberais de Plataforma Cívica (PO), com Donald Tusk como primeiro-ministro e Bronislaw Komorowski como futuro presidente da República.
Para o parlamentar Jacek Kurski, do PiS, "Komorowski não governará sozinho", mas sua Presidência será dirigida por Tusk, o que torna impossível esperar políticas ativas e críticas por parte do próximo chefe de Estado, pregado aos interesses do Governo.
Espera-se que Komorowski coopere com o Executivo liberal, com um mandato que em alguns momentos chegue inclusive a ser qualificado de dócil, a fim de levar adiante as reformas duras e imprescindíveis que Tusk pretende iniciar para apoiar a economia.
Como explica o analista Pawel Fafar, os poloneses demonstraram que estavam "fartos" dos conflitos entre primeiro-ministro e presidente, e optaram pelo candidato mais moderado, mas firme defensor do consenso e do acordo como ferramentas políticas.
Os votos do eleitorado de esquerda foram decisivos para a vitória de Komorowski, que durante sua campanha eleitoral manteve um cortejo evidente com a Aliança Esquerda Democrática (SLD), cujo líder, Grzegorz Napieralski, havia sido o terceiro mais votado no primeiro turno, com 13%.

"Sem nós não teria conseguido ganhar", afirmou o parlamentar Ryszard Kalisz, da SLD, satisfeito com os resultados de ontem.

É justamente agora quando o liberal deve pensar em como materializar as promessas que fez aos setores da esquerda dias atrás, entre as quais estão o financiamento dos tratamentos de fertilização in vitro e a saída das tropas polonesas mobilizadas no Afeganistão.
A parlamentar conservadora Ewa Kierzkowska alerta agora que esse apoio exigirá algo em troca. "Após vencer as eleições, o primeiro-ministro Tusk terá de cumprir as promessas de Komorowski".
Apesar do desempenho da esquerda, a eleição de ontem confirma que a Polônia continua situada à direita da arena política, imersa entre dois modelos bastante similares, não obstante as vontades de seus líderes e eleitores.
São opções similares que, no entanto, mantêm a população dividida. Tal divisão até se refletia territorialmente, já que foi o Leste do país - mais pobre -, e as zonas rurais que apoiaram Kaczynski, enquanto as cidades e o Oeste - mais desenvolvido - votaram majoritariamente por Komorowski.
Os resultados também certificam a linha que a Polônia seguirá no futuro, com um presidente que procura reforçar o diálogo, a posição polonesa no fórum internacional, europeísta e representante dos interesses do mundo dos negócios.
A opção desprezada, representada por Jaroslaw Kaczynski, deixa fora de jogo um político percebido como um grande patriota, que encarna as demandas dos trabalhadores e que pretende atender aos interesses nacionais acima de tudo, embora também seja considerado polêmico em excesso e pouco disposto a buscar soluções de consenso.
Ontem à noite, Kaczynski se sobrepunha à derrota e pedia a mobilização de seus seguidores e o início da luta pelas eleições parlamentares do ano que vem.

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